segunda-feira, 16 de maio de 2016

[subiu a construção como se fosse sólido]

estamos em construção.

em geral o público só percebe os reparos externos, e por isso às vezes parece que já estamos prontos para enfrentar a vida. mas a verdade é que internamente, a bagunça é constante. sempre tem um piso quebrado que precisa trocar, uma demão de tinta em algum quarto escondido (só percebemos que a tinta descascou quando resolvemos acender a luz), um ou outro móvel que precisa ser trocado. e por mais dor de cabeça que essas pequenas reformas acabam dando, elas são necessárias, não dá pra fugir.

fica uma bagunça, claro. por mais que a gente tente limpar cada vez que uma parede se quebra, fica sempre um pouco de poeira. é uma obra que parece não ter fim. mas que pode ser divertida. afinal, quem não gosta de ver a casa renovada? quem não fica maravilhado quando percebe que a cozinha ficou muito mais clara com o novo azulejo? ou que a sala parece maior só porque mudamos o sofá de lugar? esses reparos, pequenos ou grandes, são cansativos, mas na hora que fica pronto aquele pequeno pedaço de vida, a gente respira aliviado.

são muitas as vezes que eu fico com ódio dessa obra. muitas. é cansativo, o tempo todo ter que modificar aqui e ali. dói porque, como só vemos a nossa obra, e não temos acesso às obras internas de cada um, a gente vê o sorriso estampado no rosto do amigo e pensa "por que minha reforma não é tranquila como a dele(a)? por que parece que eu não consigo botar a casa em ordem, e a de todo mundo está lá, certinha, como já deveria ser desde sempre?" mas não nos iludamos: todos estão em construção. todos estão arrumando o próprio barraco. ninguém está pronto.

às vezes vacilo um pouco no meio da reforma. deixo tudo de pernas pro ar, sento no sofá e fico olhando e pensando - e agora? tudo parece tão sujo, tão empoeirado, é piso quebrado pra tudo quanto é lado, não tem um único cômodo que esteja 100%, chega. quero só deitar aqui no cantinho e esperar a obra se acabar sozinha, como que por milagre. mas não adianta. acordo no dia seguinte e tá tudo lá, exatamente igual. eu sou pedreira de mim mesma. não posso esperar o milagre. não posso esperar que alguém venha de fora e termina a minha reforma. é hora de pegar minhas próprias ferramentas e acabar com essa obra o quanto antes.

aí chega uma hora em que você acha que finalmente! tudo tá pronto, tudo do jeito que eu queria, estou feliz, bora chamar os amigos pro open house. tudo é festa, tudo é alegria, mas quando os amigos se vão, você percebe que queria o quarto azul e a sala rosa. lá vamos nós de novo para mais planejamento, mais gastos, mais mudanças.

é preciso dar valor mesmo à toda sujeirada que a reforma faz. com a poeira a gente aprende que tem que cobrir o chão antes de começar a quebrar o azulejo. aprende que tem que fechar a porta do quarto pra poder lixar a parede do corredor, e evitar que a sujeira vá toda pra cama. paradoxo, mas real: a sujeira ensina a ser evitada.

estamos em constante reforma. mas não por isso temos que lidar sempre com o mesmo entulho.

2 comentários:

Chico Mouse disse...

Você voltou! ^^

Andarilho disse...

Detesto reformas. Prefiro comprar novo (ah, se eu tivesse dinheiro pra isso)